Samba de Pareia

Marina Gil, Ana Luiza Nobre e David Sperling

SE, Brasil

10°48'49" oeste e 37°7'40" sul.

Corpo e terra são modalidades dos regimes extrativistas. O Samba de Pareia da Mussuca marca o solo por meio de uma outra perspectiva: a dança como reconhecimento do chão comum.

Publicado em
13/09/2022

Atualizado em
14/10/2022

Mussuca é um povoado localizado no município de Laranjeiras (SE) que desde 2006 é reconhecido como Território Quilombola. Do mussum encontrado pelos primeiros refugiados até virar Mussuca, esse sítio poderia ser visto como a expressão da violência da escravização em nosso território; poderia ser encarado como a representação do Brasil colonial e sua coerção; poderia ser memória da dor secular de um corpo coletivo. Poderia ser isso tudo, mas é o lugar de roda que ousa afirmar um lugar.

Mussuca segue sendo morada de povos diaspóricos que, desde o nascimento da primeira criança após a Lei do Ventre Livre, fazem do Samba de Pareia um rito, em ritmo, para acompanhar a chegada dos recém-nascidos nesse chão.

Quem samba, não samba só. De quatro em quatro as dançantes revezam suas duplas. Inseridos na dinâmica circular, os pés buscam cortejar, a todo tempo, o chão, com o tamanco de madeira funcionando concomitantemente como adereço de cena e instrumento musical. Na cantiga e no movimento de batida, abre-se a terra: a recepção das crianças está feita, a homenagem à mãe está posta. O lugar do encantamento está criado.

Na Mussuca eu nasci,

na Mussuca me criei,

com o Samba de Pareia,

na Mussuca eu morrerei.

Ô cadê o samba, 

oi ele aqui…

Através da dança, soterram um pedaço da violência colonial. Movimentos de vai-e-volta do corpo, odes à vida livre. Bater o pé, rodar, romper com o adestramento e (re)configurar a história. Roda, roda, gira e roda… Sai de cena o corpo-mercadoria, entra em cena o corpo-corpo, corpo-terra, corpo-lugar. O território é um só, a terra do samba. Pé, palma, quadril, pé. Ganzá, tambor, cuíca e voz. O Samba de Pareia tornou-se símbolo de identificação do povoado e de sua prática de roda-viva. A luta se faz por onde se aterra os pés.

 

Foto: SNAPIC/SESC. (1)

Foto: SNAPIC/SESC. (1)

Foto: Antoidrex. (3)

Foto: Antoidrex. (3)

Foto: Fernando Cocó. (4)

Foto: Fernando Cocó. (4)

Foto: Alexandra Dumas. (5)

Foto: Alexandra Dumas. (5)

Foto: SNAPIC/SESC. (6)

Foto: SNAPIC/SESC. (6)

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