Refinaria de Paulínia

Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling

SP, Brasil

22°43'35" oeste e 47°8'5" sul.

Maior refinaria de petróleo do Brasil, marco da promessa de autonomia da nação pelo petróleo.

Publicado em
28/08/2022

Atualizado em
13/09/2022

A vida cotidiana, movida a diesel, gasolina, asfalto e gás de cozinha, passa pela gigantesca cidadela de tubos e globos de metal instalada a cerca de 100 km da cidade de São Paulo, por onde escorre um líquido viscoso negro e valioso. Inaugurada em 1972, a Refinaria de Paulínia é a maior do Brasil em termos de capacidade de produção, podendo processar até 434 mil barris de petróleo por dia. 

Em 1953, o governo brasileiro instituiu o monopólio estatal da prospecção, exploração, refino e transporte de petróleo e gás natural, com a criação da Petróleo Brasileiro S. A. (Petrobrás), empresa hoje de economia mista que comanda a Refinaria de Paulínia. A decisão esteve ligada ao ufanismo patriótico propagado durante o varguismo que reuniu um largo espectro de posições ideológicas sob o slogan “O petróleo é nosso!”. Como se a nacionalização do subsolo fosse capaz de garantir a independência do país, enquanto ele se inseria no mercado petrolífero internacional com uma empresa cujo logotipo fazia referência direta à bandeira do Brasil.

Disso até a conquista da autossuficência nacional em petróleo, em 2006, muito chão foi perfurado – no Brasil e além-fronteiras, em países como Angola, Irã, Colômbia, China e outros. A Petrobrás avançou por terra e mar, em águas rasas, profundas e ultraprofundas, quebrando sucessivos recordes. Cada vez mais longe da costa, redefinia também a grandiosidade de uma nação cujo sesquicentenário da independência foi comemorado junto com a inauguração da refinaria de Paulínia: “O Brasil começa no mar. Mar de sal, praias e 200 milhas. Mar de peixe, jangada e saveiro. Mar de petróleo, navio e petroleiro. Mar. Onde também está presente a sua empresa” (PETROBRÁS, 1972, s.p.).

Tanto se cavou que veio à tona um tesouro submerso: o pré-sal, gigantesca reserva de petróleo localizada abaixo de uma camada de sal que se acumulou por milhões de anos sob as águas. Acredita-se que essa reserva foi gerada durante o processo de separação entre a América e a África, quando se formou o oceano Atlântico. Descoberto em 2007, o pré-sal reposicionou o Brasil no quadro geopolítico internacional e fomentou ainda mais a expansão internacional da empresa.

No entanto, o que parecia ser o último capítulo da promessa de um país emancipado confluiu com uma grande derrocada. Os escândalos de corrupção revelados a partir de 2014 pela Operação Lava-Jato envolveram a Petrobrás e abriram uma grave crise política, social e ambiental  que assola o Brasil desde então. Ao mesmo tempo em que o negócios petrolíferos se vêem pressionados pelas pautas cada vez mais urgentes da agenda ambiental global.

A refinaria de Paulínia – onde mais de 70% do petróleo processado vem dos campos de pré-sal – mostra-se, assim, como expressão máxima de um país que buscou eximir-se dos laços de dependência que o definem desde o período colonial apostando num recurso finito, poluente e não-renovável, cujo prazo de validade se aproxima.

Refinaria de Paulínia (REPLAN) - Foto Marcos Peron/virtualphoto.net (1)

Refinaria de Paulínia (REPLAN) - Foto Marcos Peron/virtualphoto.net (1)

Foto de Paulo Whitaker/File Photo/Reuters (2)

Foto de Paulo Whitaker/File Photo/Reuters (2)

Refinaria de Paulínia (2012) - Foto Divulgação/Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) (3)

Refinaria de Paulínia (2012) - Foto Divulgação/Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) (3)

Cidade Nova, Antonio Sant’Elia, 1914 (4)

Cidade Nova, Antonio Sant’Elia, 1914 (4)

Explosão de um tanque da refinaria - Reprodução TV Globo (5)

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Cenas iniciais da cidade fictícia de “Hades”no filme Blade Runner (1982) de Ridley Scott (6)

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Fosso Fóssil, 2016 - Mari Fraga, Exposição Tempo Fóssil na Galeria de Arte Ibeu, 2016 (7)

Fosso Fóssil, 2016 - Mari Fraga, Exposição Tempo Fóssil na Galeria de Arte Ibeu, 2016 (7)

Getúlio Vargas acena com a mão suja de petróleo durante a campanha “O Petróleo é Nosso!” em 1953 - Divulgação/Petrobrás

Getúlio Vargas acena com a mão suja de petróleo durante a campanha “O Petróleo é Nosso!” em 1953 - Divulgação/Petrobrás

Blade Runner (1982) - Cena de abertura

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