Pico da Bandeira
Marcelo Motta
ES, Brasil
20°26'2" oeste e 41°47'47" sul.
Publicado em
05/09/2022
Atualizado em
14/10/2022
Conquistar um território e criar uma nação. Uma missão difícil e justificada como estratégia colonizadora. Impor sobre um território seu modo de vida. Impor seus costumes, hábitos e crenças, independente de quem lá esteja. O Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó (MG), tem essa história. Foi aí que D. Pedro II, logo após a independência do Brasil, fincou a bandeira da nação recém criada e que tanto precisava ser forjada, mesmo que a ferro e fogo, em um território tão vasto. Unificar, consagrar tradições, forjar identidade, intenções e objetivos. Todos a partir de então seriam brasileiros, termo herdado da extração do pau-brasil.
Formado por uma rocha de alto grau metamórfico, gerada em profundidade na crosta terrestre, o Pico da Bandeira se faz alto na Serra do Caparaó devido à sua resistência aos processos de intemperismo e erosão. Àquela altura do século XIX, pensava-se ser o Pico da Bandeira o ponto culminante da Terra Brasilis. Daí o interesse do Imperador, já que não se conheciam os picos da Neblina e 31 de março, próximos à fronteira com a Venezuela.
Reside ali, a 2.892 metros de altitude, o espírito nacional soberano, onipresente àqueles que deram ouvido ao brado retumbante de “independência ou morte!” às margens plácidas do Ipiranga. Perguntas que ainda se fazem: quem ouviu? Quem deu ouvido? E ainda se alguém ouviu, quem acreditou? E que nação exatamente era essa? A quantos falava? Quantos unia?
Em 1967, um grupo de ex-integrantes do exército, rebelados contra as atrocidades que vinham ocorrendo desde 1964 com a instauração do governo militar, instalou uma guerrilha no Brasil. Uma reforma, uma revolução, uma outra proposta de nação estava sendo requerida. Inspirados nos movimentos revolucionários da Sierra Maestra de Cuba, os guerrilheiros fizeram da Serra do Caparaó (e, não por acaso, do Pico da Bandeira) seu centro de treinamentos. O movimento foi descoberto a partir do momento em que alguns guerrilheiros desceram à vila do Caparaó para comprar remédios. A polícia do Estado de Minas Gerais cercou e prendeu os guerrilheiros, que a essa altura já eram menos de dez integrantes. Logo após a prisão, o exército tomou a frente em um grande espetáculo de força, com bombardeios à montanha, tanques e mais de 10 mil soldados fortemente armados para combater a insurgência que já havia sido combalida. Mais uma vez, uma retumbante atitude em nome da nação que se impunha.
Os anos passaram, o Pico continua resistindo ao intemperismo e à erosão, hoje protegido pelo Parque Nacional do Caparaó e aberto à visitação para os que gostam de caminhadas, cachoeiras e belas paisagens. No entanto, após as longas horas de subida, ao chegar ao Pico, não há nenhuma bandeira!
Referências
NOVO, T. NOCE, C.M., PEDROSA-SOARES,A.C., BATISTA,G.A.P. Rochas granulíticas da Suíte Caparaó na região do Pico da Bandeira: embasamento oriental do Orógeno Araçuaí, Geonomos, 19(2), 70-77, 2011, disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11762
GUIMARÃES, P.F. A Guerrilha de Caparaó, o medo da população e as táticas adotadas pelas tropas de repressão ao movimento para conquistar a simpatia popular (1966-1967). Anais do I colóquio do Laboratório de história Econômica e Social, UFJF, Juiz de Fora, junho de 2005. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.ufjf.br/lahes/files/2010/03/c1-a57.pdf
ICMBIO, 2022. Parque Nacional do Caparaó, História, disponível em https://www.icmbio.gov.br/parnacaparao/quem-somos/historia.html#:~:text=Abriga%20o%20terceiro%20pico%20mais,se%20deva%20a%20esse%20fato.
Fonte das Imagens
Imagem 1: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/16/interna_gerais,350817/conheca-a-historia-dos-rebeldes-do-caparao.shtml
Imagem 2: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/16/interna_gerais,350817/conheca-a-historia-dos-rebeldes-do-caparao.shtml
Imagem 3: https://turismoaltocaparao.com.br/noticias/pico-da-bandeira-2-892m
Imagem 4: https://quantocustaviajar.com/blog/parque-nacional-do-caparao/