Pandora Papers

Um paraíso fiscal é uma caixa de pandora lacrada. Os males ali se multiplicam em segredo e apenas certas pessoas possuem permissão de abrir a tampa para visitar seu interior, embaralhar cartas, desenhar tabuleiros, reestruturar suas delicadas articulações. Ministros, oligarcas, presidentes, reis, banqueiros, estrelas do pop, criminosos e chefes do narcotráfico entram e saem da caixa sem mostrar o rosto nem deixar pegadas.

O paraíso geralmente se camufla de ilha paradisíaca, destino inofensivo feito de mar, sol, palmeiras e calor. Assim a caixa de pandora passa despercebida como um belo cartão postal. Apenas a alguns ela alonga o seu convite, não pede explicações, não escreve sobrenomes, não pergunta sobre a origem dos recursos, não cobra nada. O convite é tentador, especialmente àqueles que desejam fugir da prestação de contas ou do pagamento de impostos em seus países. Fraudes, corrupções e ilicitudes encontram terra fértil para crescer.

Com o capital bem empacotado, desloca-se a riqueza da terra onde foi gerada, para longe das pessoas e jurisdições aí enraizadas. É uma mangueira de sucção de mão única, que leva a um espaço desterritorializado, off-shore, onde as legislações originárias de nada valem. E onde um presidente, rei ou ministro podem fazer a sua própria economia paralela, enquanto entrega a do seu país à sua própria sorte. 

Em certas ocasiões, jornalistas põem-se a investigar o que acontece na caixa de pandora. São necessários centenas deles, tamanha a quantidade de documentos envolvidos, registros da ordem de trilhões de dólares. Esmiuçando vazamentos, eles divulgam os indivíduos escondidos dentro da caixa. Panama Papers, Paradise Papers, Pandora Papers. Essa última foi a maior investigação já realizada sobre as offshores. Nela, o Brasil figurou como o quinto país com maior número de pessoas citadas. 

Por uma fresta na fechadura da caixa, viu-se um escritório de advocacia no Panamá criar milhares de empresas de fachada para as elites latino-americanas. De onde vem o dinheiro e qual o seu destino são respostas trancadas na caixa. Os males que se multiplicam no seu interior, no entanto, alastram-se por muitas terras. Estima-se que escorre por esse limbo flutuante metade do fluxo financeiro do planeta.