Negro Cosme

No dia 17 de setembro, no estado do Maranhão, comemora-se o Dia do Negro Cosme. E “quem é esse Cosme?”, cujo heroísmo deveria ser homenageado em todo o país, e não apenas em terras maranhenses? Cosme Bento das Chagas, natural do Ceará, foi um líder quilombola brasileiro. Sua história de vida não é surpreendente em um país escravocrata, e envolve assassinato, encarceramento e fuga. Após esse período, Negro Cosme autointitulou-se “Imperador, Tutor e Defensor das Liberdades Bem-te-vis”. 

Negro Cosme escondia-se por quilombos enquanto ajudava escravos cativos, e fundou na fazenda Tocanguira o Quilombo da Lagoa Amarela, o maior da história do Maranhão. Lá, criou uma escola para negros, ato pioneiro, já que no Império do Brasil, ler e escrever era privilégio de brancos e abastados.   

O conflito de maior relevância em que Cosme esteve associado foi a Balaiada, insurreição de negros que resistiram às condições desumanas impostas pela sociedade escravista. A Balaiada foi incrementada com a liderança de Negro Cosme, ligado ao grupo Bem-te-vi, formado por liberais da época. Garantiu-se assim a continuidade da resistência frente à forte repressão encabeçada por Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias. 

A Balaiada só foi considerada findada com a prisão de Cosme, em 1841, após uma batalha sangrenta. Até então, o líder e seu exército haviam resistido fervorosamente. O conflito atingiu a marca de mais de seis mil mortos, além de centenas de prisioneiros e torturados. Negro Cosme foi julgado e condenado à forca, mas transformou-se em símbolo da luta negra e da luta contra a escravidão, alcançando assim a imortalidade. 

Mesmo assim, num país em que 54% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat​í​​​stica – IBGE, se declara negra, a história oficial consagrou Duque de Caxias depois de matar e torturar negros e destruir quilombos.