Monumento ao Pavilhão Nacional

João Masao Kamita

DF, Brasil

15°48'2" oeste e 47°51'34" sul.

Com projeto do arquiteto Sergio Bernardes, uma gigantesca bandeira nacional foi fincada na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no auge da ditadura militar.

Publicado em
24/10/2022

Atualizado em
25/10/2022

1972 foi marcado no Brasil pela comemoração do Sesquicentenário da Independência. Em termos de arquitetura, uma realização significativa foi o Pavilhão Nacional, projetado por Sergio Bernardes e inaugurado em Brasília em 19 de novembro, Dia da Bandeira. 

O objetivo simbólico das comemorações é claro e duplo: a legitimação do regime vigente e a celebração do chamado “Milagre Econômico”. O teor de ufanismo patriótico insuflado nos eventos exaltava o mito de origem do Estado-nação e se representaria na imagem do Pavilhão Nacional: a bandeira brasileira. Por força da Lei 5.700, de 1º de setembro de 1971, que ditava o hasteamento do pavilhão nacional em todos os mastros do território nacional e em representações no exterior, logo se forjaria a ideia de construir um “monumento” no espaço principal da nação: a Praça dos Três Poderes.

O convite ao arquiteto se deu por intermédio do então governador do Distrito Federal e arquiteto Hélio Prates da Silveira, por solicitação da Presidência da República, à época ocupada pelo General Emilio Garrastazu Médici.   

Nas ponderações do arquiteto, o problema colocado não era nada fácil, ao contrário do que se poderia supor à primeira vista. O pavilhão deveria ser alçado a uma altura de 100m, ou seja, acima de qualquer edificação da cidade, e localizado no espaço cívico mais importante da capital. O que significava impor-se num espaço povoado de monumentos. Mas o que seria o monumento no caso em questão? Para Sergio Bernardes, sem dúvida, a bandeira nacional, de dimensões gigantescas (286 m2). E como desenhar um mastro que suportasse na extremidade um peso de cerca de 24 toneladas, levando-se em conta a força do vento nessa altitude? 

Deveria ser uma estrutura robusta, mas não maciça, tal qual uma torre ou um obelisco, afinal, o monumento não poderia ser o próprio mastro. Outro fator a considerar era o próprio processo de construção que deveria ser ágil. Nesse momento, Sergio Bernardes estava desenvolvendo a ideia da arquitetura como sistema, o que implicava concebe-la não apenas como formalização, antes como sistema de produção em sintonia com os procedimentos industriais. O princípio básico é a ideia de componente, ou seja, elementos independentes, modulares e substituíveis. 

O mastro foi concebido como um conjunto de 24 barras tubulares de 84m, que se articulam em diafragmas de seção circular cujo raio decresce conforme diminui o diâmetro da base ao vértice. Trata-se de uma grande estrutura vazada, mas com materialidade enfática, que evidencia sua lógica de fabricação, articulação, montagem e coordenação. 

Mais do que um mastro, uma agulha ou torre, se trata de uma espécie de farol simbólico apontando para o futuro. Para Bernardes, um horizonte imaginado, desde pelo menos 1965, com seu projeto para o Rio do Futuro, futuro como a era da eletrônica, do desenvolvimento tecnológico e da sociedade de massa. Para o Governo Militar, como a era do Milagre Econômico consolidando lições de patriotismo exaltado pelas Forças Armadas como modo de se aproximar da sociedade civil brasileira. Seriam estes dois projetos de futuro distintos, a ponto de não se cruzarem? 

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

o monumento em construção, 1972. Foto divulgação Projeto Memória Acervo Sergio Bernardes. (2)

o monumento em construção, 1972. Foto divulgação Projeto Memória Acervo Sergio Bernardes. (2)

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre

Foto: Ana Luiza Nobre