Lloyds Banking Group
Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling
Reino Unido
51°30'59" leste e 0°5'43" sul.
Publicado em
05/09/2022
Atualizado em
02/12/2022
Não foram apenas os senhores de engenho que lucraram com a escravidão. Por trás do circuito financeiro que sustentou essa prática, grandes corporações aumentaram em muito seu capital, entre eles os bancos britânicos Barclays, HSBC e Lloyds Banking Group. Nem a abolição da escravatura nas colônias britânicas, em 1833, nem as pressões diplomáticas para que a mesma fosse extinta no Brasil impediram que tais movimentações financeiras fomentassem a prática escravagista.
Discurso moral da liberdade, mas exercício devasso da servidão. Além de financiarem o tráfico negreiro e as lavouras que se utilizavam dessa mão-de-obra, bancos britânicos aceitavam pessoas escravizadas como forma de garantia para empréstimos. Em caso do não pagamento das dívidas, essas pessoas eram leiloadas. A pequena Ancieta, por exemplo, com um ano de idade, foi a leilão pelo London and Brazilian Bank (comprado pelo Lloyds Banking Group em 1923). Pessoa-lote. Pessoa-lance. O London and Brazilian Bank possuía em sua carteira mais de 800 pessoas escravizadas em fazendas brasileiras de café.
Em sua página oficial, o grupo reconhece que, assim como o London and Brazilian Bank, pelo menos 200 dos bancos incorporados possuíram envolvimento com a escravidão. Esse, no entanto, não é um fato histórico que ficou no passado. A escravidão contemporânea, não mais identificada pelos grilhões e correntes (e nem por isso menos violenta), continua a movimentar o fluxo de caixa de grandes bancos e instituições internacionais.
No início dos anos 2000, um movimento de congressistas nos EUA conseguiu alterar a legislação do país sobre o trabalho escravo contemporâneo após uma constatação chocante: um acúmulo de casos de trabalho análogo à escravidão em residências do alto escalão de Washington. A discussão veio à tona durante o julgamento de Rene Bonetti, que escravizou uma mulher brasileira por quase 20 anos como empregada doméstica.
Serviçais imigrantes, levados aos Estados Unidos por autoridades de grandes instituições como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização dos Estados Americanos, eram submetidos a condições de trabalho degradantes e a violações de seus direitos. Mudam-se os arranjos, permanecem as relações de exploração e lucro. Sob a tênue fachada de uma instituição internacional, a Casa Grande ganhou e continua ganhando corpo. Corpo que se ganha, corpo que se leiloa, corpo que se tiraniza.
Referências
BRANIGIN, William. Safeguards Proposed for Servants. The Washington Post, on-line, 16 fevereiro de 2000. Disponível em: . Acessado em 11 Jul. 2022.
JOLLY, Jasper. Barclays, HSBC and Lloyds among UK banks that had links to slavery. The Guardian, on-line, 18 junho 2020. Disponível em: . Acessado em 11 Jul. 2022.
MORI, Letícia. Como bancos ingleses lucraram com escravidão no Brasil. BBC News Brasil, São Paulo, 19 julho de 2020. Disponível em: . Acessado em 11 Jul. 2022.
Imagem 1: https://projetoafro.com/editorial/entrevista/conversa-com-artista-elidayana-alexandrino-e-as-narrativas-que-se-encontram/
Imagem 2: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0144039X.2015.1025487?journalCode=fsla20
Imagem 3: https://www.flickr.com/photos/127547040@N07/50337966762/in/photolist-2jGceLE
Imagem 4: https://art-sheep.com/titus-kaphars-deconstructed-artworks/
Imagem 5: https://www.vistafolio.com/newsletters/themarkets-feb19-98963.html
Imagem 6: https://www.flickr.com/photos/robbophotos/2775596711/in/photolist-5egEcH