Infinity Tower (EN)

Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling

SP, Brasil

23°35'14" oeste e 46°40'45" sul.

Nau contemporânea de vidro espelhado, território-sede, no Brasil, de algumas das empresas transnacionais mais ligadas aos processos de globalização em curso.

Publicado em
08/07/2022

Atualizado em
05/09/2022

Uma nau corta a cidade. Sua fundação navega no Itaim Bibi, uma das principais zonas financeiras de São Paulo. Está ali em plena atividade, ainda que pareça encalhada próxima ao cruzamento da Avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek. Movimenta-se pelo feixe da financeirização global. Chamam-na Torre do Infinito. Mas não na língua portuguesa, que já não encontra tantos destinos como na era de expansão ultramarina. Foi em inglês o batismo do barco: Infinity Tower.

Fizeram-no com velas espelhadas, um artifício da arquitetura icônica criada pelos escritórios Kohn Pedersen Fox Associates, dos Estados Unidos, e Aflalo & Gasperini Arquitetos, do Brasil. Entre as principais obras do escritório estadunidense, estão alguns dos edifícios mais altos do mundo, como a Lotte World Tower (555m), na Coreia do Sul, o Ping An Finance Center (com 600 metros de altura) e o CTF Finance Center (530m), ambos na China. Obeliscos luxuosos transformados em commodities na competição global entre cidades contemporâneas.

Duas cortinas curvas de vidro envolvem a Infinity Tower, como que estufadas pelo vento. O navio quer arrancar suspiros na paisagem, talvez um impacto semelhante àquele da primeira vez em que os indígenas avistaram as embarcações de Cabral. A praia se enchia de gente a admirar aquelas velas acima do oceano. Colossais, tremeluzentes, encantadoras. Era também o encontro com a moléstia, o extrativismo e a moral civilizatória. O navio introjetava na nova terra as patologias do progresso. 

Na viagem dessa nau de vidro contemporânea, não há estórias de monstros marinhos, é o próprio convés que está repleto de tubarões. Facebook, Apple, Credit Suisse Group, Goldman Sachs, Bloomberg e Louis Vuitton são alguns dos inquilinos do edifício. Renovam e atualizam a simbologia daquele que talvez seja o mais bem-sucedido instrumento da colonização, o navio. Ou, segundo Foucault, a heterotopia por excelência, uma vez que ele inaugura um espaço deslocado, que não se encaixa em lugar algum e, ao mesmo tempo, conduz a outros lugares – novos territórios, tesouros escondidos. Como os límpidos espelhos da fachada da Infinity Tower, que apelam para o imaginário do desenvolvimento, enquanto refletem a dura realidade de processos cada vez mais intensos de desterritorialização.

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Infinity Tower building

A contemporary one-way glass vessel, the headquarters- territory in Brazil to some of the transnational companies linked to the globalization processes underway.

A vessel cuts through the city. Its foundation sails across Itaim Bibi, one of São Paulo’s premier financial districts. It is fully active there, although it may seem shipwrecked near the corner of Faria Lima and Juscelino Kubitschek avenues. It is guided by the beam of global financialization. They call it Torre do Infinito. But not in Portuguese language, which no longer finds as many destinations as it used to back in the overseas expansion age. This boat has been baptized in English: Infinity Tower.

They built it with mirror-clad sails, an artifice of the iconic architecture created by the firms Kohn Pedersen Fox Associates, from the United States, and Aflalo & Gasperini Arquitetos, from Brazil. The US-based firm’s work includes some of the world’s tallest buildings, like the Lotte World Tower (555m), in South Korea, the Ping An Finance Center com 600 meters tall) and the CTF Finance Center (530m), both in China. Luxury obelisks made into commodities in the global competition between contemporary cities. 

Two curved glass curtains encircle Infinity Tower, as if it’d been blown by the wind. The ship seeks to draw sighs from the landscape, perhaps a similar impact to when the natives first caught a glimpse of Cabral’s vessels. People would crowd the beach and admire those sails above the ocean. Colossal, wavy, captivating. That was also the encounter with infirmity, extractivism and civilizing morals. The ship introjected into the new land the pathologies of progress. 

Along the journey of this contemporary glass ship there are no sea monster stories; it is the deck itself that’s replete with sharks. Facebook, Apple, Credit Suisse Group, Goldman Sachs, Bloomberg and Louis Vuitton are some of the building’s tenants. They renew and update the symbology of what may be the colonization’s most successful tool, the ship. Or, according to Foucault, heterotopia par excellence, since it ushers in a dislocated space that does not fit anywhere, and at the same time leads to other places – new territories, hidden treasures. Like the spotless mirrors on the Infinity Tower façade, which appeal to the imaginary of development even as they reflect the harsh reality of ever-more intense deterritorialization processes.

Infinity Tower (1)

Infinity Tower (1)

Croqui esquemático da implantação [2]

Croqui esquemático da implantação [2]

Acesso pricipal [3]

Acesso pricipal [3]

Perspectiva da ’’Zona Alta’’ da torre [4]

Perspectiva da ’’Zona Alta’’ da torre [4]

Planta baixa do térreo [5]

Planta baixa do térreo [5]

Vista interna [6]

Vista interna [6]

[7]

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Foto: LEONARDO FINOTTI[8]

Foto: LEONARDO FINOTTI[8]

Corte [9]

Corte [9]

Edifício em construção [10]

Edifício em construção [10]

Descobrimento do Brasil, 1955, Candido Portinari. Acervo Galeria Frente. Foto: Victor Vaccari.

Descobrimento do Brasil, 1955, Candido Portinari. Acervo Galeria Frente. Foto: Victor Vaccari.