Ilha de Itaparica
Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling
BA, Brasil
12°53'6" oeste e 38°41'1" sul.
Publicado em
24/10/2022
Atualizado em
02/12/2022
Se a independência do Brasil em relação a Portugal é retratada como um acontecimento “às margens plácidas do Ipiranga”, não foi esse o quadro que se pintou na Ilha de Itaparica. Aí o embate violento, corpo a corpo, foi decisivo. Talvez porque, como escreveu João Ubaldo Ribeiro (que viria a nascer na mesma ilha), “desde o século XV que portugueses, espanhóis, franceses, holandeses, ingleses e outras tribos exóticas acham de vir perturbar aqui, de forma que temos muita prática de invasão” (1998, p. 48). O que fez com que os circuitos da independência acontecessem, em terras itaparicanas, “debaixo de tapa”.
Situada bem no meio da Baía de Todos os Santos, a Ilha de Itaparica foi um ponto estratégico nas batalhas baianas contra as tropas portuguesas. De um lado, dava acesso a Salvador e, do outro, ao Rio Paraguaçu, por onde se seguia à Vila de Cachoeira, sede pioneira que encabeçou a resistência ao declarar sua independência em 25 de Julho de 1822. A Ilha também tinha sua própria fortaleza, o Forte de São Lourenço, de modo que nenhum navio podia entrar ou sair sem ser visto. Assim embargaram-se os mantimentos, os armamentos e as informações que nutriam as tropas lusitanas.
O personagem principal dessa vitória foi o povo. Os exércitos populares de Itaparica, formados por mulheres e homens, negros, índios e mestiços, pescadores, marisqueiros e trabalhadores braçais. Uma das figuras mais representativas é a de Maria Felipa, mulher negra, escravizada liberta que organizou diversas ações táticas contra a hegemonia portuguesa na província e coordenou inúmeros incêndios a embarcações lusas que chegavam à Ilha.
O conhecimento da terra estava do seu lado. As palhas de coco alastravam o fogo rapidamente nos navios. E as folhas de cansanção, planta que provoca coceira, ardência e queimação ao encostar na pele, revelaram-se uma arma mais poderosa do que as baionetas portuguesas.
A independência do Brasil na Bahia se comemora meses depois do chamado “grito do Ipiranga”, apenas em 2 de Julho de 1823. E isso porque as batalhas conhecidas como mata-marotos estenderam-se por meses até que os portugueses fossem expulsos de vez. De Itaparica, ouvia-se o povo cantar: “havemos de comer marotos com pão, dar-lhes uma surra de bem cansanção, fazer as marotas morrer de paixão” (MARQUES, 1921, p. 236).
Referências
MARQUES, Xavier. Sargento Pedro: tradições da independência. 2. ed. Salvador: Catilina, 1921.
RIBEIRO, João Ubaldo. No pasarán! In: ______. Arte e Ciência de roubar galinha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
GUERRA FILHO, Sérgio Armando Diniz. O povo e a guerra: participação das camadas populares nas lutas pela independência do Brasil na Bahia. 2004. 141f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.
SANTOS, Lucas Borges do. Maria Felipa. Resgate da Memória, n. 2, ano 1, Salvador, Jul. 2014.
Fonte das Imagens:
Foto 1: https://tripifyapp.com/venue/itaparica-brazil/monumento-ao-7-de-janeiro/5ecb6fbd-2ea2-4eb1-a8a4-3bcee8a4f3c3
Foto 2: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/08/06/quem-foi-maria-felipa-a-escravizada-liberta-que-combateu-marinheiros-portugueses-e-incendiou-navios.ghtml
Foto 3: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/01/07/alvorada-missa-e-cortejo-celebram-196-anos-da-independencia-da-ilha-de-itaparica.ghtml
Foto 4: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:FortalezadeSaoLourencoitaparica.jpg