Ilê Axé Opô Afonjá
Ana Luiza Nobre
RJ, Brasil
22°46'35" oeste e 43°23'18" sul.
Publicado em
21/10/2022
Atualizado em
21/10/2022
A solidariedade nascida entre os cativos nos navios negreiros e as ameaças de desintegração de suas identidades e vínculos culturais na diáspora levaram à superação de diferenças étnicas e à criação de um complexo de sociabilidades que abriu caminho para relações dinâmicas entre os terreiros negro-brasileiros.
Diferentemente do que ocorria na África Ocidental, por exemplo, onde uma região ou cidade tinha como patrono um orixá, no Brasil os orixás muitas vezes encontravam-se juntos numa mesma região ou cidade. Reelaboradas ou recodificadas as regras de origem, preservava-se assim uma matriz fundadora das cosmologias africanas que transgredia a lógica colonial, garantia coesão diante da marginalização imposta pela ordem dominante e permitia aos negros firmar-se no território brasileiro.
As estratégias políticas-culturais de reterritorialização foram muito além dos espaços físicos dos terreiros e incluíram afoxés, maracatus, agremiações carnavalescas. A base territorial, no entanto, permaneceu assentada no espaço-lugar encantado e movente do terreiro – que na década de 1940, só na cidade de Salvador (então com 400 mil habitantes), eram cerca de 80.
Conhecida no universo dos cultos negros como Iyá Obá Biyi, Mãe Aninha (Eugênia Ana dos Santos) foi uma das lideranças mais importantes da comunidade negro-baiana entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX e construiu uma ponte sólida com o Rio de Janeiro, onde os negros baianos concentraram-se inicialmente na Pedra do Sal. Foi aí que ela fundou o primeiro terreiro de candomblé – um centro de atividades e polo irradiador de força, antes que um espaço físico – e consagrou a primeira filha de santo (Tia Conceição, do Orixá Omulu) da então capital federal, cujas aspirações progressistas logo levariam a uma reforma urbana que varreu pobres e negros do centro.
Depois de passar por vários endereços, o Ilê Axé Opô Afonjá – Casa da Força sustentada por Xangô, fundado por Mãe Aninha em 1896 – fixou-se na década de 1940 em Coelho da Rocha, município de São João de Meriti, onde desde 2016 é reconhecido como patrimônio estadual.
Hoje, em cada toque de tambor que dá ritmo ao carnaval carioca, o terreiro está.
Referências
Sodré, Muniz. O terreiro e a cidade. A forma social negro-brasileira. Rio de Janeiro: Mauad, 2019.
Simas, Luiz Antônio e Rufino, Luiz. Fogo no mato. A ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
Imagem 1: https://www.researchgate.net/publication/49607119_Icons_of_Memory_Photography_and_its_Uses_in_Bahian_Candomble
Imagem 2: http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/508
Imagem 3: https://extra.globo.com/noticias/rio/terreiro-na-baixada-fluminense-completa-130-anos-pode-virar-patrimonio-cultural-18757554.html
Imagem 4: https://extra.globo.com/noticias/rio/terreiro-na-baixada-fluminense-completa-130-anos-pode-virar-patrimonio-cultural-18757554.html
Imagem 5: https://es.m.wikipedia.org/wiki/Archivo:Ile_opo_afonja.jpg