Ganvie

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

Ganvié, Benin

6°28'10" leste e 2°24'48" norte.

E se fosse possível driblar a escravização - e consequentemente o desterro para a América - construindo uma cidade sobre a água?

Publicado em
13/09/2022

Atualizado em
13/09/2022

A costa ocidental da África, onde hoje encontram-se o Togo, o Benin e a Nigéria, foi um importante polo do tráfico negreiro transatlântico entre os séculos XV e XIX, tornando-se por isso conhecida como Costa dos Escravos. As diferentes etnias que habitavam a região guerrilhavam entre si e vendiam seus adversários como escravos aos comerciantes – majoritariamente portugueses, com negócios no Brasil.

Uma dessas etnias se deslocou para o lago Nokoué, no Benin, e deu origem a uma cidade suspensa sobre a água.

Vários mitos fundadores envolvem essa cidade: há quem diga por exemplo que, encurralado pela perseguição em terra, o rei dos Tofinu teria se transformado em um grande crocodilo e levado seu povo em segurança para a parte mais protegida do lago, onde se estabeleceram. Ainda que faltem comprovações documentais, o que se sabe é que no século XVII a tribo Tofinu, fugindo da tribo Fon, se refugiou no lago de águas rasas que beira o mar beninense. As palafitas teriam sido, portanto, estratégicas: considerado sagrado, o lago teria protegido os Tofinu – que ficaram conhecidos como “homens d’água”.

Os descendentes dessa etnia, uma das únicas que não foi escravizada, seguem vivendo na comunidade elevada sobre estacas de madeira denominada de Ganvie, que significa “estamos salvos” em sua língua – do tronco linguístico Gbe, variante do Mina, falado principalmente no Togo atual. Hoje com aproximadamente 30.000 habitantes, é provavelmente a maior cidade palafítica da África. A vida ali pulsa em atividades ligadas sobretudo à pesca. Atualmente, Ganvie possui bares, restaurantes, banco, correio, hospital, mesquita, igreja e uma escola – uma das únicas construções em terra firme, nas margens do Nokoué. Há também pequenas ilhas artificiais, criadas com solo transportado das bordas do lago.

Apesar de ser um dos principais pontos turísticos do Benin, Ganvie enfrenta problemas como falta de saneamento básico, de eletricidade e de coleta de resíduos sólidos. Em suas águas, hoje contaminadas por metais pesados, a vida segue fluindo assim mesmo, astuciosamente, entre palafitas, canoas e mercados flutuantes.

Irmã Dulce, a primeira santa do Brasil, notória por sua contribuição nos Alagados de Itapagipe. Fonte: Acervo Osid. (1)

Irmã Dulce, a primeira santa do Brasil, notória por sua contribuição nos Alagados de Itapagipe. Fonte: Acervo Osid. (1)

Alagados de Itapagipe, Salvador, Bahia. Ilustração de Geraldo Alves, presente no livro ‘’Arquitetura Popular Brasileira’’, de Günter Weimer. (2)

Alagados de Itapagipe, Salvador, Bahia. Ilustração de Geraldo Alves, presente no livro ‘’Arquitetura Popular Brasileira’’, de Günter Weimer. (2)

’’Puffer Houses’’. Projeto do arquiteto iraniano Sajjad Navidi de residências que se adaptam ao nível do mar. (3)

’’Puffer Houses’’. Projeto do arquiteto iraniano Sajjad Navidi de residências que se adaptam ao nível do mar. (3)

Ganvie: The floating market of Benin