Casa Bandeirante do Butantã
Eleonora Aronis
SP, Brasil
23°33'40" oeste e 46°42'34" sul.
Publicado em
28/10/2021
Atualizado em
29/08/2022
Butantã. “Terra firme”, em tupi guarani. É aí, na zona oeste da cidade de São Paulo – uma das maiores metrópoles do planeta – onde o Rio Pinheiros se encontra com estradas que levam ao interior do Brasil, que podemos revisitar o que seria a vida doméstica de um bandeirante, personagem longamente celebrado como herói desbravador de novas terras e formador de uma suposta identidade paulista.
A “Casa Bandeirante do Butantã” é uma casa de taipa do séc XVII, época de fundação da cidade pelos colonos portugueses. Sua arquitetura é testemunho do violento processo de ocupação e urbanização da região e da própria formação territorial do Brasil, desde os campos alagadiços às margens do Rio Jurubatuba à conquista de um continente supostamente vazio por meio de ações sucessivas que envolveram a superação da topografia, a retificação do rio, o parcelamento e loteamento de terras pela Cia. City, já na década de 1930.
A casa é um dos poucos exemplares remanescentes de uma vasta rede de edificações rurais espalhadas pelo Planalto Paulista que serviam de apoio às expedições de colonos portugueses, mestiços e escravos por dentro do continente americano em busca de ouro e prata, novas terras e captura de indígenas para escravização. Funcionavam simultaneamente como ponto de parada nas bordas da zona de expansão agrícola de uma então pequena vila, e ponto de partida dos caminhos que levavam a Cotia e Itapecerica ou ligavam o litoral já parcialmente ocupado ao sertão desconhecido.
Na ocasião da comemoração do IV centenário da cidade de São Paulo, em 1954, a casa foi tombada pelo IPHAN/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e tornou-se parte do Museu da Cidade de São Paulo, após passar por um processo de restauro liderado pelo arquiteto Luís Saia.
A diferença de cota entre a rua e o o chão sobre o qual a casa está implantada, no entanto, contribui para o questionamento cada vez mais intenso da museificação e celebração dos bandeirantes, ao indicar que essas terras já tiveram configuração e sentido muito distinto. Antes de serem colonizadas, remexidas, aterradas, loteadas, pavimentadas e vendidas, eram “terras firmes”. Ybytatá, lugar de passagem em meio à trilha indígena do Peabirú, num sítio de enorme biodiversidade onde a Mata Atlântica se encontrava com bosques de araucária e o cerrado.
Referências
AZIZ, Ab’Saber. Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.
BROIDE, Emília; BROIDE, Jorge (Coord.). Butantã: Um Bairro em Movimento. Memória, Vida Transformação. São Paulo: Versal Editores, 2013.
DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Movimentos da População em São Pauto no séc. XVII, São Paulo: Companhia das Letras, 2014
MAYUMI, Lia. Taipa, Canela-preta e Concreto, Estudo Sobre o Restauro de Casas Bandeiristas. São Paulo, Romano Guerra Editora, 2008.
SALA, Dalton; SALA, Tiago Alcovér. Casas Bandeiristas, Arquitetura Colonial Paulista –casa butantã. último acesso 10.08.2021