Carajás

Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling

PA, Brasil

6°3'15" oeste e 50°10'38" sul.

Maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo.

Publicado em
14/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

As fotos aéreas que revelaram clareiras na imensidão da Serra dos Carajás deram as primeiras pistas da presença de metais valiosos nessa região do Pará, onde foi escavada a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. Só de minério de ferro, são 18 bilhões de toneladas. 1 bilhão de minério de cobre. Além de manganês, níquel, cassiterita, cobre, ouro.

A grandiosidade da descoberta, em 1967, foi proporcional à ambição extrativista. Uma confluência de forças do mercado internacional, junto ao governo ditatorial brasileiro, financiou os projetos para a exportação do minério. A criação do Programa Grande Carajás (PGC), em 1980, destinou uma gigantesca área dos estados do Pará, Maranhão e atual Tocantins para incentivos fiscais a indústrias siderúrgicas e guseiras, além de investimentos em infraestrutura. O marco inicial do programa foi a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, também no Pará, em 1978. Na outra extremidade do corredor de exportação, o Terminal Marítimo Ponta da Madeira foi construído em São Luís do Maranhão, em 1986. Os navios cargueiros que hoje saem do porto transportam, cada um, até 300 mil toneladas de minério de ferro. A maior parte vai para países asiáticos, principalmente a China.

A espinha dorsal do projeto é a Estrada de Ferro Carajás, inaugurada em 1985, que liga a mina ao porto. Os trens que transitam por ela parecem não ter fim: alguns têm mais de três quilômetros de comprimento. A linha ferroviária tem 892 km de extensão e corta quase 30 municípios.

Toda essa extensa cadeia de atividades ligada à extração e exportação de minério tem produzido fortes impactos em unidades de conservação, comunidades quilombolas, assentamentos agrários e terras indígenas, com recorrentes episódios de contaminação do solo, água e ar, desmatamento, diminuição da biodiversidade, remoções forçadas e violações de direitos humanos e trabalhistas.

É a mineradora Vale que gerencia as atividades de extração e exportação, desde 1986, quando era ainda a antiga estatal Companhia Vale do Rio Doce. A Vale esteve envolvida nas maiores tragédias socioambientais do país, como o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho em 2015 e 2019, respectivamente. No Corredor Carajás, os conflitos fundiários tiveram seu ápice com o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, quando a Polícia Militar do Pará assassinou 19 trabalhadores rurais sem-terra que protestavam na rodovia, deixando mais de 60 feridos.

Hematita extraída da Serra dos Carajás. (1)

Hematita extraída da Serra dos Carajás. (1)

Serra dos Carajás. Foto: Paulo Santos/1999/Atlas Amazônia Sob Pressão via Agência Brasil. (2)

Serra dos Carajás. Foto: Paulo Santos/1999/Atlas Amazônia Sob Pressão via Agência Brasil. (2)

NASA Earth Observatory, 26 de julho de 2009. (3)

NASA Earth Observatory, 26 de julho de 2009. (3)

Vista da obra ‘’Bailarina Carajá’’, pintada por Cândido Portinari em 1958, retratando um indígena Carajá. Foto: Victor Vaccari. (4)

Vista da obra ‘’Bailarina Carajá’’, pintada por Cândido Portinari em 1958, retratando um indígena Carajá. Foto: Victor Vaccari. (4)

Carajás, 50 anos: A descoberta

Documentário Serra dos Carajás