Borba Gato (EN)
Ana Luiza Nobre
SP, Brasil
23°37'56" oeste e 46°41'31" sul.
Publicado em
05/10/2021
Atualizado em
29/08/2022
A imagem colossal do bandeirante paulista Manuel de Borba Gato (1628-1718) celebra um longo histórico de grilagem de terras, exploração de recursos minerais, caça e escravidão de ameríndios e negros que se cruza com a própria história de uma das maiores metrópoles do planeta. A estátua feita de argamassa é revestida com pedras coloridas extraídas de várias regiões do país e de Portugal, de onde saíram os mármores que recobrem seu rosto. A estrutura interna usa trilhos de bondes pouco a pouco enterrados pelo asfalto paulistano e substituídos por meios de transporte mais “modernos”.
O projeto é simultâneo ao plano urbanístico de Brasília. A intenção era inaugurar o monumento em 1960, data em que se comemoraria o IV Centenário de Santo Amaro e a nova capital federal seria inaugurada sob a proteção de uma sacrossanta peça metálica também transportada especialmente de Portugal: a cruz que se acredita ter sido usada na missa celebrada na baía de Porto Seguro dias depois do desembarque da esquadra de Pedro Álvares Cabral.
Várias narrativas épicas interligadas, assim, a reforçar a imagem de um Brasil comprometido com o desbravamento e a colonização, o extrativismo e a dominação, o progresso e o desenvolvimento, antes e depois da Independência.
Pichado em 2016, incendiado em 2021, Borba Gato mantém-se de arma em punho, em postura desafiadora, no alto de seu pedestal. A poucos passos dele, milhares de pessoas circulam diariamente pela estação de metrô que leva seu nome. Um nome que também batiza um sem fim de outras coisas por ali: o restaurante, a sapataria, o chaveiro, o ponto de taxi, a escola, a loja de azulejos, a casa de repouso. Houvesse ouro e esmeraldas e seria o repouso perfeito.
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Borba Gato Statue
A 13-meter-high statue sits on the median of Santo Amaro Avenue in the city of São Paulo, a tribute to the greed and violence at the root of land disputes in what we now call Brazil.
The colossal image of São Paulo explorer Manuel de Borba Gato (1628-1718) celebrates a long history of land grabbing, mineral resource extraction, the hunting and enslaving of Amerindians and blacks that entwines with the very history of one of the biggest metropolises on the planet. The masonry statue is coated in colored stones extracted from different areas within Brazil and Portugal, the latter being where the marble that coats its face comes from. The statue’s internal structure is built from tram tracks, which were gradually buried by tarmac in São Paulo and replaced with more “modern” means of transport.
The build was concurrent with the Brasília master plan. The plan was to have the monument launched in 1960, the year of the 4th Centenary of Santo Amaro. This was also the year the new federal capital would open, under the protection of a sacrosanct metal piece that was also specially hauled in from Portugal: a cross believed to have been used in the mass celebrated on Porto Seguro Bay days after the arrival of Pedro Álvares Cabral’s squadron.
Multiple interlinked epic narratives thus underscore Brazil’s image of commitment to conquest and colonization, extractivism and domination, progress and development, pre- and post-Independence.
Slapped with graffiti in 2016, set afire in 2021, the weapon-wielding Borba Gato stands defiant atop his pedestal. A few steps from him, an eponymous metro station welcomes thousands of people each day. Endless other things here are named after him: the restaurant, the shoe repair shop, the locksmith’s, the cab stand, the school, the tile shop, the nursing home. If only there was gold and emeralds, this would be the perfect home.
Referências
GARCEZ MARINS, Paulo César. Nas matas com pose de reis: a representação de
bandeirantes e a tradição da retratística monárquica européia. Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros, núm. 44, FEVEREIRO, 2007, pp. 77-104 Universidade de São Paulo São
Paulo, Brasil.
RAHME, A. M. A. K. A derrubada de cada estátua é um apelo. Revista ARA, [S. l.], v. 10, n.
10, p. 131-157, 2021. DOI: 10.11606/issn.2525-8354.v10i10p131-157. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revistaara/article/view/182185. Acesso em: 22 out. 2021.
RAHME, Anna Maria Abrão Khoury. Configurações Paulistas: operando a saga bandeirante,
p. 77 -108. Revista ARA , set. 2018. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revistaara/article/view/150923/148298 . Acesso
em: 22 OUT. 2021.
Fonte Imagens
Imagem 1: Existente no Site
Imagem 2 : Escultura Borba Gato
Foto : Artexplorer
Fonte: https://www.flickr.com/photos/artexplorer/2677598581/in/photostream/
Imagem 3:Consultoria Publica para trocar a estatua de Borba Gato por Tereza de Banguela, historica Lider Quilombola.
Fonte : https://luanapsol.com.br/estatuatereza/
Imagem 4: Juventude Trabalhista Crista Conservadora com um ato de limpeza da estatua do Borba Gato após o incendio.
Fonte : https://twitter.com/jtccbrasil/status/1421518848336011264
Imgaem 5: Estátua do escravocrata inglês Edward Colston derrubada no Canal de Bristol
Fonte: https://twitter.com/sarah_turnnidge/status/1269646528622272513?s=20&t=Ju2O12uJT86vzGppDq_MXA