Belém-Brasília

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

MA, Brasil

5°12'49" oeste e 47°30'58" sul.

“[vamos] arrombar esta selva e unir o país de norte a sul”. Juscelino Kubitschek (in: BOJUNGA, Claudio. JK O Artista do Impossível, Rio de Janeiro, Objetiva, 2001)

Publicado em
18/09/2022

Atualizado em
18/09/2022

Marcado pela construção de Brasília, o governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) também realizou outros audaciosos planos desenvolvimentistas pautados pela lógica da integração rodoviarista. Em 1958, quando a construção da nova capital já avançava, JK confiou ao engenheiro agrônomo Bernardo Sayão, um dos diretores da Novacap/Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a tarefa de construir uma rodovia capaz de “arrombar essa selva e unir o país de norte a sul”. O plano era cruzar o país de norte a sul e de leste a oeste, integrando-o territorialmente por meio de uma grande cruz cujo ponto central seria justamente a capital. A primeira ação: traçar uma linha reta de Brasília a Belém, com mais de 2.000 quilômetros.

A operação foi planejada em duas frentes de trabalho: uma começando em Brasília, comandada por Sayão, e outra descendo de Belém, a cargo do médico sanitarista paraense Waldir Bouhid. As equipes avançaram sobre o cerrado e a floresta amazônica e o encontro foi previsto para o final de janeiro de 1959, com uma missa, um grande churrasco e a presença do presidente. Tudo em plena floresta.

Faltando 50 quilômetros para a conclusão dessa etapa, porém, se ouviu um grande estalo na floresta desmatada. Era o galho de uma árvore que se partira com o vento e foi atingir em cheio o engenheiro. Sem comunicação entre as cidades maranhenses de Imperatriz e Açailândia, o socorro chegou tardiamente em helicóptero. Sayão morreu sobrevoando sua obra, mas vencido pela floresta.

O engenheiro recebeu várias homenagens do Estado, e seu nome batizou a estrada que causou sua morte. Em discurso em seu enterro – que parou o canteiro de obras de Brasília – JK exaltou-o como um “bandeirante moderno”, “o comandante da batalha que desencantará a Amazônia de sua prisão, que virá retirar da pré-história tão grande, tão obscura e tão importante zona de nossa Pátria”.

 

Operários desmatando para a então rodovia Belém-Brasília. (1)

Operários desmatando para a então rodovia Belém-Brasília. (1)

Capa da 24ª edição da BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (2)

Capa da 24ª edição da BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (2)

Futura Rodovia Bernardo Sayão (BR-010). BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (3)

Futura Rodovia Bernardo Sayão (BR-010). BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (3)

Projeto da Rodovia Belém-Brasília, atual Rodovia Bernardo Sayão (BR-010). BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (4)

Projeto da Rodovia Belém-Brasília, atual Rodovia Bernardo Sayão (BR-010). BRASÍLIA: Revista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, de 1958. (4)

Árvore a ser cortada para a construção da rodovia. Fonte: Pedro Pneus. (5)

Árvore a ser cortada para a construção da rodovia. Fonte: Pedro Pneus. (5)

Placa na Rodovia Belém-Brasília. (6)

Placa na Rodovia Belém-Brasília. (6)

Trecho do cinejornal "Coluna Norte", de Jean Manzon