Açude de Cocorobó
Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling
BA, Brasil
9°54'21" oeste e 39°7'35" sul.
Publicado em
13/09/2022
Atualizado em
14/09/2022
Por entre a fome e a seca, um homem peregrina no nordeste brasileiro com seus seguidores. Reforma igrejas e cemitérios, prega sermões religiosos, faz profecias, dá conselhos. Antônio Conselheiro aumenta seu número de devotos a cada província por onde passa e, após duas décadas de peregrinação, decide, em 1893, se estabelecer com seus milhares de seguidores no povoado de Canudos, renomeando-o de Belo Monte.
Aí instaurou-se um estado paralelo onde não se pagavam impostos federais, mas uma contribuição destinada aos mais necessitados. O arraial – onde a propriedade privada de terras foi banida – atraiu muitos sertanejos retirantes, ex-escravizados e indígenas. A vila chegou a ter a segunda maior população da Bahia, com 25.000 habitantes.
Mas o regime alternativo e independente de Canudos apresentava ameaças à República recém-instituída levantava rumores de um golpe monarquista. A partir de 1896, tropas militares atacaram os conselheiristas em três episódios malsucedidos. Por fim, uma última investida levou 5.000 homens e um canhão à Canudos, em 1897, e destruiu suas mais de 5.000 casas. Os habitantes foram massacrados e o vilarejo foi incendiado para que não restasse nenhuma testemunha, vestígio nem esperança. A Guerra de Canudos, talvez a mais sangrenta da história brasileira, foi eternizada em diversos livros e filmes, dentre os quais se destaca “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, publicado em 1902.
Por volta de 1910, uma segunda Canudos ressurgiu, porém, das ruínas do fogo. Novamente foi destruída pelo Estado. Em 1940, por ocasião da construção da estrada Transnordestina, o então presidente Getúlio Vargas visita a cidade e começa a elaborar um plano que acabaria de vez com qualquer memória de Canudos: construir um açude que alagaria a cidade.
A construção da barragem teve início na década de 1950, justificada pela proposta de promover o desenvolvimento econômico da região através da pesca e da irrigação. As obras se estenderam até 1969, quando Canudos foi definitivamente submersa pelo governo militar.
Mais uma vez, seus habitantes começaram a construir a terceira Canudos, nas proximidades da represa.
Quando o nível da água no açude de Cocorobó baixa, nos longos períodos de seca que são comuns na região, a Canudos afogada se revela nas ruínas da igreja de Santo Antônio. Uma cidade assassinada duas vezes reemerge, retorcendo a profecia de seu líder de que o sertão viraria mar.
Documentário “Açude Cocorobó - Fragmentos de 50 anos de Memória”
Referências
ALMEIDA, Marcos Vinícius. Destruída duas vezes, Canudos sobrevive em meio a escombros e miséria: jornalista narra viagem a cidade imortalizada em 'Os Sertões' pelo homenageado da Flip, Euclides da Cunha. Folha de S. Paulo. São Paulo. jun. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/destruida-duas-vezes-canudos-sobrevive-em-meio-a-escombros-e-miseria.shtml. Acesso em: 05 maio 2022.
CANUDOS, Câmara Municipal de. Açude de Cocorobó. 2020. Disponível em: https://www.camaracanudos.ba.gov.br/Site/Noticias/noticia-071220201139471591-A-ude-de-Cocorob. Acesso em: 05 maio 2022.
MARINHO, Anderson. Fazer Estado no Sertão: uma análise antropológica do Estado no Sertão de Canudos. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 31., 2021, Rio de Janeiro. Anais do Simpósio Nacional de História . Rio de Janeiro: ANPUH, 2021. Disponível em: https://www.snh2021.anpuh.org/resources/anais/8/snh2021/1617811948_ARQUIVO_80c677e1a8d6d50672265a005c330827.pdf. Acesso em: 05 maio 2022.
SOUZA, Alice de. A Canudos que resiste: Antigos moradores voltam ao lugar de seus antepassados e resgatam a história do povoado que desafiou o poder. Tab Uol. Canudos. mar. 2022. Disponível em: https://tab.uol.com.br/edicao/canudos-que-resiste/#cover. Acesso em: 05 maio 2022.
Imagem 1: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra28766/ruinas-da-igreja-de-canudos-acude-de-cocorobo-canudos-ba
Imagem 2: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/destruida-duas-vezes-canudos-sobrevive-em-meio-a-escombros-e-miseria.shtml
Imagem 3: https://www.camaracanudos.ba.gov.br/Site/Noticias/noticia-071220201139471591-A-ude-de-Cocorob
Imagem 4: https://tab.uol.com.br/edicao/canudos-que-resiste/#page2
Imagem 5: https://tab.uol.com.br/edicao/canudos-que-resiste/#page5
Imagem 6: https://revistasalsaparrilha.com/2015/07/05/de-uma-chance-aos-sertoes/
Imagem 7: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=3002
Imagem 8: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=3002
Imagem 9: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4862