Parque Augusta (EN)

Márcio Barbosa Fontão e Ana Luiza Nobre

SP, Brasil

23°33'0" oeste e 46°38'56" sul.

Situado em região central da cidade de São Paulo, o Parque Augusta tornou-se símbolo da organização de movimentos civis na luta contra a especulação imobiliária e a pavimentação extensiva numa das maiores metrópoles do mundo.

Publicado em
27/10/2021

Atualizado em
09/07/2022

Agentes envolvidos
-Construtora Cyrela e Setin

-Prefeitura Municipal de São Paulo

-Movimento Parque Augusta (Aliados do Parque Augusta, Parque Augusta sem Prédios e Organismo Parque Augusta)

O terreno amplo e de localização privilegiada foi alvo de disputas desde que um colégio ali instalado fechou as portas, na década de 1960. Nos anos seguintes, a área de aproximadamente 24.000 metros quadrados no bairro de Cerqueira César foi convertida em estacionamento. Entre os carros e o mar de concreto do entorno, edificações de valor histórico e o último bosque central da cidade: um conjunto arbóreo precioso, composto por cerca de 600 árvores, muitas centenárias e de espécies ameaçadas da Mata Atlântica.

Na década de 1970, incorporadoras sinalizaram a intenção de construir ali um complexo hoteleiro. Moradores da região e frequentadores do bosque se mobilizaram e articularam um movimento que passou a reivindicar o tombamento do imóvel (edificações e conjunto arbóreo) e a transformação do espaço em parque público, sem qualquer adição edilícia que não atendesse a tal uso.

Custou, mas o bosque foi enquadrado como área de preservação permanente e tombado pela municipalidade em 2004. O impasse sobre o destino do cobiçado terreno, porém, prosseguiria por mais de uma década.

Foram organizados abaixo-assinados, abraços coletivos ao terreno e uma série de atividades educativas e culturais, em paralelo ao levantamento de documentos referentes à regularização do terreno. Um dos momentos culminantes foi a ocupação organizada por moradores e usuários em 2015, com o objetivo de pressionar a prefeitura para efetivar a criação de um parque público ali. Durante 47 dias, houve festival de música, mapeamento de árvores, plantio de horta e mutirões de limpeza. Sessões de cinema, aulas de yoga, assembléias, ações de acolhimento para pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Também foram instalados geradores de energia, painéis fotovoltaicos e internet.

Após vários processos judiciais e rodadas de negociações com as construtoras proprietárias do terreno, a prefeitura adquiriu o terreno em troca da transferência do potencial construtivo da área – instrumento urbanístico previsto no Plano Diretor da cidade – e oficializou a criação do Parque Augusta como espaço público.

Um projeto foi elaborado com base em estudos apresentados pela sociedade civil, moradores da região e movimentos em prol da implantação do parque. E mal começaram as obras, emergiram do solo remexido estruturas construtivas, caminhos e artefatos centenários e até indícios de ocupações pré-coloniais. Histórias enterradas de uma das maiores metrópoles do mundo, erguida sobre território indígena e sujeita à lógica das privatizações como tantas outras cidades brasileiras.

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Augusta Park

 

Augusta Park in downtown São Paulo has become a symbol of civil movements coming together to fight real estate speculation and widespread paving in one of the world’s largest metropolises. 

The expansive lot at a prime location had been vied for ever since the school that used to be there shut down in the 1960s. In the years that followed, the roughly 24,000 sqm area in the Cerqueira César neighborhood was converted into a parking lot. Between the cars and the surrounding sea of concrete, historic buildings and the last patch of green standing downtown: a precious set of some 600 trees, many of which were over a hundred years old, including endangered Atlantic Forest species. 

In the 1970s, developers expressed intent to build a hotel complex on the site. Area residents and frequenters took action and created a movement demanding that the property be heritage-listed (the buildings and the trees) and converted into a public park with no additional construction for any other purposes.

It wasn’t easy, but the patch of green was named a permanent preservation area and heritage-listed by the municipality in 2004. The deadlock as to the fate of the coveted land lot, however, would go on for over a decade. 

There were petitions, group hugs of the lot and a bevy of educational and cultural activities, concurrently with research into lot regularization documentation. A decisive moment was an occupation organized by residents and goers in 2015, in a bid to pressure City Hall into creating the public park. Over the course of 47 days, there was a music festival, a mapping of the trees, the planting of a vegetable garden, and cleanup taskforces. Movie showings, yoga lessons, assemblies, actions to welcome homeless and chemically dependent people. Power generators, solar panels and WiFi were put in place.

After multiple lawsuits and talks with the builders that owned the lot, City Hall purchased it in exchange for the transfer of the area’s building potential – an urban design expedient provided for in the city’s master plan – and officially created Augusta Park as a public space. 

A plan was drafted based on studies put forth by civil society, area residents and pro-park movements. As soon as work began, building structures, routes and centuries-old artifacts were unearthed, and even the remains of pre-colonial era settlements. Buried history in one of the world’s biggest metropolises, built on indigenous territory and subjected to the logic of privatizations, like so many other Brazilian cities. 

Estacionamento funcionando no terreno do Parque. Autor desconhecido. Extraído de Portal A vida no Centro, 2020.

Estacionamento funcionando no terreno do Parque. Autor desconhecido. Extraído de Portal A vida no Centro, 2020.

Estacionamento funcionando no terreno do Parque. Autor desconhecido. Extraído de Portal A vida no Centro, 2020.

Estacionamento funcionando no terreno do Parque. Autor desconhecido. Extraído de Portal A vida no Centro, 2020.

Mapa da ocupação. Fonte: Folha de São Paulo, 2015.

Mapa da ocupação. Fonte: Folha de São Paulo, 2015.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.

Foto da reforma do parque prevista para terminar em 2020. Autor: Márcio Fontão, 2021.