A amorinha-do-brejo também brotou [EN / DE]

Caro rio Saracura,

Venho por todos os quilombos que em nosso chão se esconderam, incluindo aquele que se enraizou em suas margens.

Hoje a cidade lhe esmaga, mas você é abundante. Alguns negam sua existência, mas todos precisam de você. Você é riacho, córrego, olho d’água, nascente, você é tudo isso e bem mais.

Muitos humanos são tão cegos que só enxergam até onde a vista alcança. Mas os tinhorões, as mamonas, as terramicinas, os capins-limão, os boldos, as serralhas, as babosas, os gondós, as arrudas, as ora-pro-nobis, as guinés, as costelas-de-adão, as helicônias, as caitês, as begônias, as tançagens-falsa, as taiobas, os inhames-bravo, as falsas-serralhas, sabem muito bem que não só o que é visível existe. É de você que desabrocham suas vidas. Da semente até a altura das copas, é de você, Saracura, que elas germinam. Por onde você passa, a vegetação lhe segue. As canas, os milhos, as couves, os manjericões, as pimentas-dedo-de-moça, as vagens, muitos são seus companheiros.

Se suas águas correm em níveis subterrâneos, as árvores lhe fazem chegar às alturas. Os paus-ferro, as urucuranas, os bambus, as palmeiras-imperiais, as embaúbas, os eucaliptos, os ipês-amarelos e as paineiras cobrem os céus com suas folhagens. Entre as serralhas na Rua Veloso Guerra, a erva-moura e o capim-da-angola na Rua Almirante Marques de Leão; a amorinha-do-brejo também brotou. Os abacateiros, as goiabeiras, as catuabas, os limoeiros, as amoreiras, os mamoeiros, as jaqueiras, as mangueiras, as bananeiras, as jabuticabeiras, as pitangueiras, o café, o cajú, a ameixa, o tomate, o chuchu. Os caminhos são frutíferos por onde você passa. E as plantas lhe anunciam. De você brotam ervas-doce, batatas-doce, estomalinas, jussaras, orelhas-de-onça, singônios, quebra-pedra, jurubebas, trevos, pereguns, maravilhas, picões-preto, insulinas, jibóias, chefleras, as abre-caminho… certamente as abre-caminho. Nossa matriarca Magdalena Thereza de Jesus protege todo seu território. Eu a percebo. Nas espadas e lanças de São Jorge, nas comigo-ninguém-pode, nas espadas-de-Iansã.

Saracura, presente!

Quilombo da Caçandoca

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[EN]

The Swamp Blackberry also sprouted

Abstract: We don’t see the river, but we do see its trees. 

Dear river Saracura,

I come in name all the quilombos that hid in our ground, including the one that took root on your banks. 

Today the city crushes you, but you are abundant. Some deny your existence, but everyone needs you. You are a stream, a brook, a spring, a source, you are all of this and much more. 

Many humans are so blind that they only see as far as the eye can reach. But the tinhorões, the mamonas, the terramicinas, the lemon grasses, the boldos, the serralhas, the aloes, the gondós, the rue, the ora-pro-nobis, the guinés, the adam’s ribs, the heliconias, the caitês, the begonias, the false plantains, the taiobas, the wild yams, the false serralhas, they all know very well that not only what is visible exists. It is from you that their lives bloom. From seed to canopy height, it is from you, Saracura, that they germinate. Wherever you go, vegetation follows. The sugarcane, the corn, the cabbages, the basil, the red hot pepper, the beans, many are your companions.

If your waters flow in underground levels, the trees make you reach the heights. The ironwoods, the urucuranas, the bamboos, the royal palms, the embaúbas, the eucalyptus, the yellow ipês, and the paineiras cover the skies with their foliage. Among the serralhas on Veloso Guerra Street, the black nightshade and the angolan grass on Almirante Marques de Leão Street; the swamp dewberry also sprouted. The avocado trees, the guava trees, the catuabas, the lemon trees, the dewberry trees, the papaya trees, the jackfruit trees, the mango trees, the banana trees, the jabuticaba trees, the cherry trees, the coffee, the cashew, the plum, the tomato, the chayote. The paths are fruitful wherever you go. And the plants announce you. From you sprout sweet herbs, sweet potatoes, estomalinas, jussaras, orelhas-de-onça, syngoniums, quebra-pedra, jurubebas, clovers, pereguns, maravilhas, black spurge, insulinas, jibóias, ficus trees, the path-openers… certainly the path-openers. Our matriarch Magdalena Thereza de Jesus protects her entire territory. I perceive her. In the swords and spears of Saint George, in the dieffenbachias, in the swords of Oyá.

Saracura, present!

Caçandoca Quilombo

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[DE]

Die Sumpfbrombeere hat auch gekeimt

Zusammenfassung: Die Leute sehen den Fluss nicht, aber sie sehen seine Bäume

Lieber Saracura Fluss,

Ich komme im Auftrag aller Quilombos (Siedlung befreiter ehem. Versklavter Menschen) die sich in unserem Boden versteckt hielten, auch derer, die ihre Wurzeln an deinen Ufern schlugen.

Heute versucht dich die Stadt zu ersticken, aber du bist der Überfluss. Es gibt manche, die deine Existenz verleugnen, aber sie alle brauchen dich. Du bist Rinnsal, Bächlein, Pfütze, Quelle, du bist all das und so viel mehr.

Viele Menschen sind so blind, dass sie nur so weit sehen können wie ihr Blick reicht. Aber die Zinnhörner, die Rizinusbohnen, die Froschbohne, das Zitronengras, die Boldos, die Serralhas, die Aloe-Veras, die Gondós, die Arrudas, die Ora-Pro-Nobis, die Guinés, die Monsteras, die Helicônias, die Caitês, die Begonien, die Tançagens-falsa, die Taiobas, die Yams-bravo, die Falsas-serralhas wissen sehr wohl, dass nicht nur das Sichtbare existiert.  Du bist es, von dem ihre Leben austreiben. Dort, wo du vorbeikommst, folgt dir die Vegetation. Das Zuckerrohr, der Mais, der Kohl, das Basilikum, die Dedo-de-Moça Chilli, die Bohnen, viele von ihnen sind deine Gefährten. 

Deine Wasser fließen durch unterirdische Schichten, die Bäume lassen dich in die Höhe steigen. Die Eisenhölzer, die Urucuranas, die Bambusbäume, die Kaiserpalmen, die Embaúbas, die Eukalyptusbäume, die gelben Ipês und die Paineiras bedecken den Himmel mit ihren Blättern. Zwischen den Serralhas der Veloso Guerra Straße und der Erva-moura und dem Capim-da-angola in der Almirante Marques de Leão Straße; hat auch die Sumpfbrombeere gekeimt. Avocadobäume, Guavenbäume, Catuaba-Bäume, Zitronenbäume, Maulbeerbäume, Papayabäume, Jackfruitbäume, Mangobäume, Bananenbäume, Jabuticaba-Bäume, Pitangue-Bäume, Kaffeebäume, Cashewbäume, Pflaumenbäume, Tomatenbäume und Chayote-Bäume. Die Wege sind fruchtbar, dort wo du durchfließt. Und die Pflanzen kündigen dich an. Aus dir entspringen Stomalinas, Jussaras, Jaguarohren, Syngoniums, Steinbrecher, Jurubebas, Kleeblätter, Pereguns, Maravilhas, Picões Preto Insulins, Jibóias, Chefleras, die Wegbereiter… ganz gewiss die Wegbereiter. Unsere Matriarchin Magdalena Thereza de Jesus beschützt dein ganzes Territorium. Ich nehme sie wahr. In den Schwertern und Lanzen vom Heiligen Georg, in den Mit-mir-kann-keiner [Pflanzen], in den Schwertern von Iansã.

Saracura, presente! 

Der Quilombo von Caçandoca [Ansiedlung befreiter ehem. versklavter Menschen]