Serra do Curral

Carlos M. Teixeira

MG, Brasil

19°57'18" oeste e 43°53'51" sul.

Na confluência das rotas ligadas à exploração do ouro, a cidade planejada no final do século XIX para substituir Ouro Preto - associada ao colonialismo – tem como símbolo uma montanha em desaparecimento.

Publicado em
14/10/2022

Atualizado em
02/12/2022

Em 1994, a prefeitura de Belo Horizonte patrocina um curioso plebiscito que responderia a uma incógnita: qual é, afinal, o símbolo da cidade? Dentre os mais votados, a Praça da Liberdade (Aarão Reis e José de Magalhães, 1895), a Igreja da Pampulha (Oscar Niemeyer, 1939) e a Serra do Curral (período pré-cambriano). A Serra vence com 270.000 votos. 

O símbolo da BH contemporânea paradoxalmente é o vazio escondido; o único elemento natural que sobrou depois de cem anos de um ininterrupto processo de construção e destruição. Ou quem sabe o resultado do plebiscito insinue um remorso inconsciente, um sentimento de arrependimento coletivo, memória nostálgica de uma montanha antes onipresente na paisagem da cidade e que desapareceu no meio das silhuetas dos prédios – e agora está condenada a sumir literalmente…            

A Serra do Curral é um divisor de águas que marca o final da cidade e o início da zona de minerações. Do lado da cidade, as casas do bairro Mangabeiras ocupam terrenos cada vez mais íngremes, como que trepando montanha acima. Do outro – o lado escondido -, os enormes caminhões fora-de-estrada e escavadeiras exploram o minério-de-ferro, formando uma paisagem estranhamente bonita, em uma atividade devastadora que devorou a Serra e a transformou num tipo de painel natural, montanha “oca” que enfeita a cidade carente de símbolos. 

Os degraus artificiais parecendo “campos de arroz de ferro”, o solo avermelhado cintilando, a alteração dramática da paisagem serrana, a bravura dos empreendedores que nunca têm dúvidas… O símbolo de Belo Horizonte é, na verdade, uma obra de engenharia tão brava como os outros monumentos da engenharia do século XX: o lado da mineradora, sim, é o melhor lado dessa montanha. Vazio à espera de um mega projeto de land art, de uma inusitada continuação da avenida Afonso Pena, de um grande parque público, ou, quem sabe, de um gesto único e radical como o das telas de Lucio Fontana.   

O sublime das minerações urbanas está aqui: na busca pelo estado crítico daquelas paisagens, nos grandes parques públicos que celebram a contradição dessa empreitada.

Microrganismos encontrados nas poerias atmosféricas dos locais candidatos à futura capital de Minas Gerais, no século XIX. in: Teixeira, Carlos M.

Microrganismos encontrados nas poerias atmosféricas dos locais candidatos à futura capital de Minas Gerais, no século XIX. in: Teixeira, Carlos M. "Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte". São Paulo: Romano Guerra, 2022 (1)

Superposição da planta de Curral D'El Rey com a de Belo Horizonte. Fonte: Acervo MHAB (2)

Superposição da planta de Curral D'El Rey com a de Belo Horizonte. Fonte: Acervo MHAB (2)

 Foto aérea da região da Serra do Curral. Foto: Embrafoto (3)

Foto aérea da região da Serra do Curral. Foto: Embrafoto (3)

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira

Foto: Carlos M. Teixeira