Imigrantes
Wilmar D'Angelis
Publicado em
30/09/2022
Atualizado em
02/12/2022
Em 1822, o Brasil era um país de população majoritariamente negra e indígena. Torná-lo um país de perfil europeu, branco e católico, foi o grande projeto histórico assumido pelo regime imperial. Ao mesmo tempo, garantir com gente fiel ao império a ocupação do sul, para fazer frente a Paraguai e Argentina, foi eleita uma prioridade geopolítica. O momento não poderia ser mais favorável: o avanço do capitalismo na Europa promovia a proletarização de um enorme contingente de famílias que, até então, constituíam sociedades camponesas estáveis. A concentração da terra, em países europeus, havia expulsado do campo milhares de famílias de agricultores, e convertido outros milhares em miseráveis servos de gleba, praticamente aos moldes feudais.
O ano de 1824 é tomado, oficialmente, como início da chegada de imigrantes europeus ao Brasil (embora se tenha começado uma colônia suíça, no Rio de Janeiro, em 1818, e centenas de famílias dos Açores tenham sido trazidas ao Sul do país no século XVIII). Colonos alemães compunham a primeira leva – aportando no Rio Grande do Sul – de um movimento migratório que foi intenso até meados do século XX, tendo seu auge entre 1850 e 1910 (com recrudescimento nos períodos pós I e II Guerra). Entre 1820 e 1920, passaram ao Brasil perto de 4,5 milhões de imigrantes, sendo 75% deles europeus.
Para estimular a imigração de famílias da Europa, diversas medidas oficiais estabeleciam formas de apoio ao seu estabelecimento. Pressionado pelos países de origem dos imigrantes, em 1850 o governo do 2° Império emitiu uma Lei de Terras, adequando o regime de posse ao modo capitalista de propriedade. Isso gerou um vertiginoso movimento de registro fraudulento de enormes “posses” de terras, na sequência “demarcadas” e registradas como propriedades, que se destinavam à especulação, para venda ao empreendimento colonizador. Todas eram terras habitadas, seja por comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras, seja por caboclos brasileiros vivendo no antigo regime de posse por ocupação efetiva. Assim, comunidades indígenas, negras, caiçaras e caboclas foram transformadas, da noite para o dia, oficialmente em “intrusas” dentro de terras “particulares”, das quais seriam expulsas por ação das colonizadoras, ou dos próprios imigrantes, depois de instalados em seus lotes coloniais.
Tiveram repercussão nacional os conflitos entre indígenas e colonos alemães na região do Vale do Rio dos Sinos, na primeira metade do século XIX; entre indígenas e colonos italianos na região de Caxias do Sul, a partir de 1875, e na mesma época, entre indígenas e colonos tiroleses no sul e leste de Santa Catarina; e os conflitos entre indígenas e colonos alemães na região de Blumenau, a partir de meados do século XIX, que se arrastaram até a segunda década do século XX. Em todas essas épocas e lugares esteve presente a ação de tropas de extermínio contra indígenas (os bugreiros), a serviço das autoridades locais e das colonizadoras, e eventualmente pagos pelos próprios colonos.
Referências
Fonte das Imagens
Foto 1: https://leouve.com.br/ultimas/monumento-nacional-ao-imigrante-completa-65-anos-nesta-quinta-feira
Foto 2: https://www.jornalvs.com.br/noticias/regiao/2021/07/24/sao-leopoldo-fest-2021-comeca-neste-fim-de-semana.html
Foto 3: https://www.flickr.com/photos/avisc/8003000426/
Foto 4:: https://www.flickr.com/photos/aragao/22728040095/
Foto 5: https://www.flickr.com/photos/9261368@N05/4087904137/
Foto 6: https://www.modefica.com.br/xokleng-marco-temporal-historico-resistencia/
Foto 7: https://www.ifsc.edu.br/noticia/2205406/professor-do-c%C3%A2mpus-ca%C3%A7ador-%C3%A9-co-autor-de-livro-sobre-a-tribo-lakl%C3%A3n%C3%B5
Foto 8: https://cimi.org.br/2020/10/xokleng-laklano-luta-terra-indigena-pode-ser-marco-reparacao-historica/