Base de Alcântara

David Sperling

MA, Brasil

2°20'5" oeste e 44°23'53" sul.

Entre um projeto nacional com horizontes estratégicos e acordos binacionais que delimitariam sua autonomia, a base de Alcântara não diz respeito apenas aos céus, mas ao chão.

Publicado em
05/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

Distância de apenas 2 graus do Equador. Essa localização privilegiada do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) traria uma economia significativa de combustível aos lançamentos de foguetes e satélites a partir de suas instalações, impulsionados indiretamente por uma maior velocidade de rotação da Terra naquela latitude do globo.

Criada em 1983, durante o regime militar, com claros objetivos geopolíticos, a base nunca decolou. Descontinuidades de financiamento do programa espacial brasileiro, acordos bilaterais com os Estados Unidos para exploração da base postos em xeque; diante de cláusulas de limitação ao acesso de brasileiros às instalações estrangeiras; outros acordos com a Ucrânia para projetos conjuntos e alguma transferência tecnológica com pouca efetividade; movimentações diplomáticas dos EUA para limitação dos acordos com a Ucrânia são expostas pelo WikiLeaks; mais recentemente, possíveis interesses da SpaceX para uso do Centro foram logo desmentidas.  

Transações militares e econômicas desse porte raramente vêm a público com um grau maior de transparência, até que os fatos estejam consumados e deles não se possa duvidar. Definitivamente, a base nunca decolou. Mas um dia, um foguete explodiu. É o  que dela mais se sabe. Vinte anos após a criação do CLA, a explosão de grandes proporções alimentada por 40 toneladas de combustível, causou a morte de 21 técnicos, evidenciando os claros limites e impasses do Programa Espacial Brasileiro.

Se a base demora a decolar para o lançamento de foguetes e satélites que esquadrinham céus e chãos, esta mesma base, para se estabelecer neste lugar há quase 40 anos, deslocou 25 comunidades quilombolas, que viviam da pesca, 20 quilômetros em direção ao interior. 

Mas para que (quem sabe) a base decole, um novo acordo com os EUA está em tramitação, e prevê novas instalações em uma área de 12.645 hectares dentro do território quilombola, tendo como efeito colateral o deslocamento de outras 30 comunidades, totalizando 800 famílias.

Como já se disse, transações militares e econômicas desse porte raramente vêm a público com um grau maior de transparência, até que os fatos estejam consumados e deles não se possa duvidar. Em Alcântara, os movimentos não se orientam só pelos pelos céus, mas também pelo chão. Aqui, aterrar e desterrar são sempre um mesmo verbo. 10, 9, 8, 7, 6…

Base de Alcântara Foto:Valter Campanato/Agência Brasil (1)

Base de Alcântara Foto:Valter Campanato/Agência Brasil (1)

O pelourinho de Alcântara (2)

O pelourinho de Alcântara (2)

Preparativos para a obra de Alcântara - MA - Coronel Aviador Steven Meier e o novo Diretor da instituição, Coronel Aviador Marcello Corrêa de Souza, para tratar do início das obras de construção do novo pátio de estacionamento de aeronaves (3)

Preparativos para a obra de Alcântara - MA - Coronel Aviador Steven Meier e o novo Diretor da instituição, Coronel Aviador Marcello Corrêa de Souza, para tratar do início das obras de construção do novo pátio de estacionamento de aeronaves (3)

Veículo Lançador de Satélites (VLS) de 21 metros é acionado acidentalmente antes da hora e a torre acaba explodindo. (4)

Veículo Lançador de Satélites (VLS) de 21 metros é acionado acidentalmente antes da hora e a torre acaba explodindo. (4)

Soldados observando a torre que explodiu na Base de Lançamento de Alcântara ao ser acionada acidentalmente. (5)

Soldados observando a torre que explodiu na Base de Lançamento de Alcântara ao ser acionada acidentalmente. (5)

O foguete ainda estava na rampa de lançamento quando ocorreu o acidente (6)

O foguete ainda estava na rampa de lançamento quando ocorreu o acidente (6)