Usina de Itaipu
Maria de Fátima Bento Ribeiro
PR, Brasil
25°24'27" oeste e 54°35'21" sul.
Publicado em
30/09/2022
Atualizado em
30/09/2022
“Diz a lenda que um velho cacique indígena, ao escutar o murmúrio do Rio Paraná na pequena ilha situada exatamente à porta da atual barragem, deu-lhe o nome Itaipu, que, em sua língua, quer dizer “pedra que canta”. Nos anos 1970, a ilha ficou silenciada para sempre. Seu nome foi dado a mais onerosa e extraordinária obra da engenharia já construída, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma monumental massa de concreto que represa um dos sete maiores rios do planeta.
No passado, as terras da região atingidas por Itaipu delimitavam o território dos antigos guaranis. De acordo com a mitologia guarani, o Rio Paraná é o lugar onde a música nasceu. Itaipu, para os antigos guaranis, significava o som ou o canto das pedras do rio, palavra que, há bem pouco tempo, o mundo branco desconhecia. Foi preciso a chegada de homens com poderes suficientes para se apoderar do nome, da ilha e do rio, para que fosse o novo uso de Itaipu, mediante a submersão forçada da “pedra que canta”. Assim a palavra Itaipu, de origem indígena, não caiu no esquecimento, pois ficou marcada como “lugar da memória”. É agora um dos fragmentos da cultura guarani que permanecem vivos, chegando até nós através da oralidade, das lendas e mitos dos índios guaranis, perpetuada no nome da usina hidrelétrica.
Contudo, a usina recebeu outros nomes. Outras figuras da memória serviram de referência para representá-la. São imagens muito antigas, mas também projeções futuristas que se condensam na memória, tais como o dragão, a pirâmide, a catedral futurista, o túmulo, o dilúvio, a alavanca, o presépio, as sete pragas e o lago de sangue e suor. Com certeza, esta listagem não se esgota aqui. Seu sentido pode ser ambíguo, pois o dragão pode significar força, poder, dinamismo, energia do fogo de suas narinas e, ao mesmo tempo, pode representar monstruosidade, destruição, morte, medo e insegurança. As imagens de Itaipu lembram as cartas de um baralho esotérico, onde se mesclam tradições culturais indígenas e ocidentais. O cristianismo e o mundo da cientificidade são constituídos neste chão de conflito na incerteza do plano do vivido”.
(Extraído, com autorização da autora, do livro de Maria de Fátima Bento Ribeiro, Memórias do concreto: vozes na construção de Itaipu. Cascavel: Edunioeste, 2002, p. 21-22)
A pedra que canta é Guarani. Assista: Vida em Resistência no Oeste do Paraná
Vídeo Desvio Itaipu
Referências
RIBEIRO, Maria de Fátima Bento. Memórias do concreto: vozes na construção de Itaipu. Cascavel: Edunioeste, 2002.