Chiquitos

De um lado, o Império do Brasil. De outro, as províncias unidas do Rio da Prata (atualmente Argentina) pela posse da região da Cisplatina (hoje território uruguaio). Mal se tornava independente e o Brasil já se envolvia em disputas por terras e riquezas com seus vizinhos no continente sulamericano. 

Iniciada em 1825 – data em que Portugal reconheceu a independência do Brasil -, a Guerra da Cisplatina foi uma das muitas disputas em torno do domínio do Rio da Prata, principal rota de acesso e escoamento da prata andina.

As lideranças rio-pratenses buscaram apoio do líder político e libertador das colônias espanholas Simón Bolívar. A movimentação levou o governador da província do Mato Grosso, Manuel Alves da Cunha, e o tenente-coronel José Maria Velasco a avançar sobre os territórios da província de Chiquitos e anexá-los ao Brasil, numa ação expansionista realizada sem o conhecimento do imperador e que deflagrou uma articulação sem precedentes entre os governos republicanos do continente contra o Brasil – já isolado como única monarquia da América do Sul.

Uma possível conquista do Império Brasileiro por seus vizinhos recém-libertos da coroa espanhola poderia garantir a extinção definitiva do regime monárquico na América e limitar a extensão territorial do Brasil, já bem maior que qualquer outro país vizinho. O conflito só não estourou porque Bolívar, ao saber que o monarca não tinha conhecimento das intimidações, impediu qualquer reação. Por sua vez, Pedro I, ao tomar conhecimento finalmente das tensões na fronteira, ordenou a retirada das tropas brasileiras. A disputa acabaria terminando então como um acidente diplomático. Mas o episódio escancarou a faceta colonizadora e expansionista do jovem país, a despeito de sua emancipação política de Portugal.