Ilha de Moçambique

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

Moçambique, Moçambique

15°2'7" oeste e 40°43'56" norte.

Após as restrições ao tráfico atlântico na segunda metade do século XVIII, passa a ser moçambicana a principal origem dos escravizados que chegavam ao sudeste brasileiro.

Publicado em
06/10/2022

Atualizado em
06/10/2022

Antes da invasão do português Vasco da Gama, a Ilha de Moçambique – hoje considerada Patrimônio Mundial pela Unesco – já era um ponto importante de comércio entre o continente africano, o Oriente Médio, a Índia e a Indonésia. Com a colonização portuguesa, em 1498, o caminho marítimo entre Europa e Índia foi inaugurado. A Ilha de Moçambique se transformou, então, em um ponto de encontro entre o mundo europeu e o mundo asiático.

A ilha carrega as marcas da colonização em sua arquitetura, sendo dividida até hoje em duas partes. Ao norte, está a cidade de pedra e cal, feita a partir da chegada dos portugueses. Ao sul, as casas de “macuti”, uma técnica de construção tradicional com paredes de pau a pique e coberturas em palha de coqueiro.

A relação entre as colônias portuguesas de Moçambique e Brasil se iniciou no século XVI e se fortaleceu com a transferência da família real portuguesa para o Brasil, o que aumentou a troca de açúcar e cana brasileiras por escravizados moçambicanos. A economia do país africano girava em torno do tráfico negreiro, tendo o Brasil como principal parceiro comercial.

Com o início da repressão inglesa ao tráfico de escravizados, na segunda metade do século XVIII, rotas alternativas e mais longas foram intensificadas para driblar a fiscalização na costa atlântica, o que levou a um aumento exponencial da chegada de moçambicanos ao Brasil. A maioria dos navios negreiros que partiam de Moçambique tinham como destino o Rio de Janeiro

As duas colônias, tão distantes e diferentes, tiveram suas histórias cruzadas pela troca de mercadorias e escravizados ao longo dos séculos. A cultura moçambicana já era formada, antes da colonização portuguesa, por uma mistura com o islamismo e o hinduísmo. Num Brasil onde já se enraizavam outras culturas africanas, a raiz moçambicana acabaria não se tornando tão visível, embora casas de macuti possam ser encontradas em registros históricos de quilombos no Rio de Janeiro, por exemplo.

Após a independência brasileira, surgiu na ilha africana a ideia de que, por estar muito próxima à antiga colônia, Moçambique deveria ser designada ao Brasil e não mais à Portugal. O povo moçambicano só se livraria do domínio colonial português, porém, em 1975 – mais de século e meio depois do Brasil e após mais de 400 anos de presença portuguesa na África.

 

"Insulae & Ars Mosambique" ("Ilha e fortaleza de Moçambique", Pieter van den Keere, 1598). Imagem: Wikimedia Commons (1)

Cidade de Macuti. Foto: Tiago B. Maciel (2)

Cidade de Macuti. Foto: Tiago B. Maciel (2)

Arquitetura Macuti. Foto: zug55. (3)

Arquitetura Macuti. Foto: zug55. (3)

Uma parede feita com pedaços de artefatos da dinastia Ming. Foto: Tiago B. Maciel (4)

Uma parede feita com pedaços de artefatos da dinastia Ming. Foto: Tiago B. Maciel (4)

Casa dos Escravos, onde os escravizados eram mantidos após viagens de diversas partes de Moçambique (5)

Casa dos Escravos, onde os escravizados eram mantidos após viagens de diversas partes de Moçambique (5)

Cais da Ilha de Moçambique com piso em pedra portuguesa. Foto: Ana Martins Barata (6)

Cais da Ilha de Moçambique com piso em pedra portuguesa. Foto: Ana Martins Barata (6)